24.12.08
DESPEDIDA
Artifícios de um passado distante.
Fragmento de “ Ciclos Viciosos”
Penetrastes até as fontes marinhas,
Circulaste no fundo do Abismo?
As portas da morte foram-te mostradas,
Viste os guardiães do país da Sombra?
(Jô, 38, 8-7)
A imagem da tempestade está no cerne de sua demonstração.
Como quem vem em um período de tempo,
e que com pouco consegue cativar, seduzir, e conquistar até que seja arrebatada a vítima, a mente perigosa articula todos os pequenos e grandes passos na trajetória de vida.
Você de perto foi uma das maiores guardiãs dos meus tesouros,
até mesmo um dos meus tesouros ocultos.
E um dos seus significados é a minha vida, meu interior sagrado,
me precavi, e mostrei-me para poucos.
No ápice do meu equívoco, fiquei cega, e me envolvi demais, me doei demais e sem medir, toda minha existência se confundiu com a sua, meus valores e os seus, todos eles difusos, misturados, e violentados.
Guardei a sete chaves pra mim mesmas.
Em combate e em estratégia de jogo, o caçador só consegue matar-me em sonho.
Você talvez seja o símbolo da paixão sem medida, que desafia que maquina, que paga por amor, que paga pra ver, até a morte.
Sinto escorrer pela sua boca o gosto amargo pelo aniquilamento,
que vem acompanhado por uma paixão violentamente exclusiva.
Vejo em você alguém que espreita a caça, o habitat e espreita todos os movimentos, para matar-me mais facilmente no instante em que eu me imobilizo.
Seus olhos seus cansaço, é essa sua angustia pelo nada.
A cada instante que percebe vulnerabilidade,
conscientemente me envenena pelas bordas.
Nesse tempo todo exprimiu à paciência, a perseverança, a prudência, e provou para si mesma que entre o abismo e as alturas a sua engenhosidade atingiu seu ponto máximo. Por instinto e sobrevivência aprendeu que usar mais a razão e o raciocínio desertaria ainda mais seu aspecto exterior.
Voltando a falsa crença que ter uma armadura te faria mais forte.
Descartando a velha essência e plenitude de uma alma tranqüila e transparente. Esquecendo-se de que a maior armadura é aquela que se constrói aos poucos e se mantém intacta ao longo do tempo.
Aquela que não vemos, mas sentimos.
Aquela que eu olho e não sinto mais.
E quando se sentiu ameaçada,
refugiou-se para as profundezas do seu ser,
deparando-se com sua natureza fria, silenciosa, e imóvel.
E tentando encontrar os sentidos no obscuro, encontrou a si mesma.
Encontrou-se melancólica, numa tonalidade monocromática,
sem brilho, uma vida desertificada, vazia.
Como você mesmo diz, e que sabemos, é que cada um tem um tempo.
E esse ciclo, com seu movimento giratório, descrevem todo o ciclo da vida.
O centro do círculo é então considerado como aspecto imóvel do ser,
o eixo que torna possível o movimento dos seres, embora oponha-se a este como a eternidade se opõe ao tempo.
E pra tentar exorcizar essa angústia de me ter e não me ter por perto,
você recorreu a decepar um membro vital.
E espera que com todas as forças que te restam, deter essa viciosidade.
E encerra o ciclo, para dar inicio a um ciclo novo.
Chegou a hora do zero para a semente enterrada no solo,
há agora uma longínqua colheita, da qual não farei parte.
Siga em frente querida.
Há novos campos, novas terras pra conquistar, há novos ares, há novas vidas a cativar. A concentração do inverno em sua severa grandeza; é a terra invernal que fomenta seu desenvolvimento, cuja as profundezas se elabora lenta e penosa tarefa da vegetação. Neste ponto culminante, é em um novo ponto de partida que se agarra, onde há uma noção de chegada, de destinação, e de objetivo, será dureza essa renúncia, tanto para mim, quanto pra você.
“A duras penas”, encerramos aqui as possibilidades inversas, e imensas, evolutivas e involutivas, para nós.
Somente nestas perpétuas tensões entre as inclinações opostas,
conseguiremos encontrar um difícil equilíbrio para o cotidiano separado, numa realidade totalmente fragmentada.
Te desejo muito amor, e acima de tudo persistência com suas novas metas, e objetivos. Feliz por ter participado de sua trajetória, mais feliz ainda por você ter me apresentado a vida de uma maneira totalmente única, e especial, vostra persona foi um marco na minha história.
Fecho agora o livro, com todas essas páginas bonitas e ensangüentadas, deixo dentro do criado mudo perto da cabeceira de minha cama, perto, sempre perto, pra quando sentir que existe um vazio e que isso me incomoda, a fonte me fará recordar que nem tudo na vida é efêmero e sem significados maiores.
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